












NOS Alive ao rubro. Querem um médico para o rock and roll? Vão falar com os Royal Blood
07.07.2017 às 2h08
Uma multidão em euforia, um duo elétrico endiabrado. Quem disse que o rock estava pelas horas da morte (outra vez) não soube tirar-lhe o pulso
São dois, vêm de Brighton, Inglaterra, e não andam nisto há muito tempo. Mike Kerr e Ben Thatcher abanaram a nação elétrica com o homónimo álbum de estreia, em 2014. O seu rock pesado, bluesy, uma vezes garageiro e outras stoner a sério, granjeou fama: no ano seguinte tocaram pela primeira vez em Portugal e logo no Coliseu dos Recreios. Jimmy Page, dos Led Zeppelin, desde cedo se disse fã e eles, isso nota-se, desde cedo admiram os Led Zeppelin.
Se quem pensa que três anos de intervalo entre primeiro e segundo álbum é a morte do artista na era do efémero, enganou-se. Pelo menos desta vez. À espera dos Royal Blood está uma multidão que enche por completo o palco Heineken - aliás, extravasa-o, com muitos fãs a aglomerarem-se nas margens. Note-se: não são meros curiosos, são fãs a sério, que entoam as letras e fazem air guitar nas alturas certas (se é que há alturas certas para fazer air guitar em público).
O arranque é bojudo, corpulento: "Where Are You Now", do recente How Did We Get So Dark? (lançado há três semanas), trata das apresentações. Mike Kerr faz do baixo uma guitarra com a ajuda da pedaleira; mas o baixo ouve-se, graças ao divisor de oitavas que "reencaminha" os dois "sinais" para os amplificadores. Atrás dele, à nossa direita, Ben Thatcher ataca de forma animalesca as peles. Parece, de facto, que estamos a ouvir uma banda rock de quatro ou cinco elementos (há alturas em que Mike alterna entre o baixo e o teclado) - mas eles são só dois.
Não haja dúvidas que o principal trunfo dos Royal Blood é o poder do riff. No osso, tudo isto é hard rock, heavy metal clássico, até na vocalização aguda de Kerr. Mas nada disto é verdadeiramente monolítico. Momentos há, como em "I Only Lie When I Love You", em que há uma ginga, um pára-arranca curvilíneo.
A tocar para um espaço completamente cheio, e nitidamente entusiasmados pela enchente, há tempo para - em cerca de uma hora - um espetáculo de confiança, bravura e show off à moda antiga (vide solo de bateria).
A reação do público é, quase sempre, orgástica. Há muito que não víamos, num festival, uma banda totalmente sintonizada com o público. Este dar e receber funciona e alimenta uns e outros.
Ouvem-se riffs à Hendrix, fintas à Muse (menos o exagero gongórico), passamos por "Hook, Line & Sinker" e "Lights Out", tudo bem por aqui. "Querem conhecer o resto da banda?", pergunta, gracejando, Mike Kerr. O resto da banda chega-se à frente de palco, na figura de Ben Thatcher, sisudo só para o estilo, que atira: "Nunca vi tantas mulheres e homens bonitos ao mesmo tempo no mesmo sítio. Portanto, muito obrigado Portugal!".
No final, o baterista desce à primeira fila, voam copos de cerveja, Mike continua em palco a sacar riffs faíscantes num final de concerto volumoso, grave, pesado. O rock está adoentado, dizem, mas os Royal Blood têm o remédio.
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