













The National: Bons filhos à casa tornam
15.07.2016 às 1h15
Os cabeças de cartaz da primeira noite do Super Bock Super Rock mostraram-se felizes no regresso a um país que os acolhe como filhos pródigos. Três canções novas e os temas do costume compuseram o alinhamento de uma banda em provável fim de ciclo
Há um certo tom de fim de festa no concerto dos norte-americanos The National na Meo Arena, esta noite, numa Lisboa quentíssima e ainda a celebrar os feitos de Éder e companhia. O festival ainda agora está a começar, é verdade, e por este palco principal do Super Bock Super Rock passarão, depois dos rapazes de Brooklyn via Ohio, os ingleses Disclosure. Mas falamos mesmo da festa dos The National – já o escrevemos algumas dezenas de vezes, mas não deixa de ser verdade: são uma das bandas rock mais acarinhadas pelos portugueses na última década e, esta noite, pareceram especialmente preocupados em agradecer esse apoio duradouro. “Sentimos a vossa falta”, começou por dizer Matt Berninger, o vocalista do quinteto, mais barbudo e cabeludo do que nunca, para mais perto do final do concerto confessar que não sabe porque é que a banda esteve “tanto tempo” sem cá vir. Tanto tempo, para os National, useiros e vezeiros de palcos portugueses, são dois anos (a última visita aconteceu no Primavera Sound, em junho de 2014), mas o grupo parece sincero nas vezes que se dirige à plateia – que não enche a sala, mas a deixa bem composta – e mostra o seu apreço pelos serviços prestados.
Com alguns minutos de atraso, os cabeças de cartaz entraram em palco ao som de Smiths, beneficiando do ótimo som da Meo Arena (serão já as obras de melhoria da acústica a dar frutos?) e das belas projeções que iluminam o fundo do palco para protagonizar um arranque feliz. «Don’t Swallow the Cap» e «I Should Live in Salt», duas das mais vivaças canções do último Trouble Will Find Me, abrem alas para a primeira de três novidades da noite: “The Day I Die”, canção inédita, de pulso rápido, é um dos temas que os The National têm andado a rodar, a par de “Can’t Find a Way” e “Find You”, de andamento mais meloso (na primeira destas, vimos um casal improvisar uma valsinha na plateia, e foi bonito).
Em 2016, os homens de Boxer, disco que em 2007 os atirou para um certo estrelato indie, concentram-se sobretudo nas canções dos seus últimos álbuns: de High Violet ouvimos “Afraid of Everyone” (com a voz de Berninger, derrotada q.b., a adequar-se à mensagem) ou “England”, de Trouble Will Find Me passaram-nos pelo ouvido “I Need My Girl”, “This Is The Last Time” e “Pink Rabbits”, delicadezas mais ou menos inspiradas contrariadas pela concisão rock de “Sea of Love”.
Quem se apaixonou pela banda com “Alligator” e ainda traz no coração o álbum de “City Middle” pode tirar o cavalinho da chuva, pois “Mr. November” é a única canção da colheita de 2005 a marcar presença no alinhamento. Mas mesmo de Boxer, álbum tão rico em temas minuciosos como em petardos festivaleiros, só escutamos “Fake Empire” e “Slow Show”. “I know I dreamed about you, for 29 years before I saw you”, canta Matt Berninger, e ao nosso lado suspira-se: “Eu já tive 29 anos a ouvir esta canção”.
Já fomos todos mais novos, mais livres, porventura mais ingénuos e facilmente contentáveis. Os The National têm acompanhado a vida de muitos que continuam a aplaudi-los em Portugal e sente-se uma fidelidade à causa, uma quase obrigatoriedade de comparecer a nova chamada. Mas há muito que a banda anda na estrada sem disco novo – Trouble Will Find Me já saiu em 2013 – e nem mesmo os projetos paralelos de cada músico (os El Vy de Berninger, as aventuras orquestrais do guitarrista Bryce Dessner, o grupo dos irmãos Devendorf) parecem trazer muita frescura à banda cujo segundo disco, Sad Songs For Dirty Lovers, de 2003, soou estranhamente bem à hora de jantar – onde por alguma razão tocava na zona de alimentação da imprensa.
A reta final do concerto foi a melhor, sacudindo esta vaga nostalgia com um punhado de trunfos infalíveis: a missa do quotidiano com “Fake Empire”, certamente uma das melhores canções de sempre da banda, culminando naquele infalível “mais alto, mais junto, mais bonito!”; o hino “Mr. November”, que aqui desempenha o papel de “tocáaquela”; “Terrible Love”, uma das mais felizes canções “recentes” (pertence a High Violet, de 2010) e, a fechar, “Vanderlyle Crybaby Geeks”. Nesta derradeira dupla, a banda usou o truque que pode ser barato mas raras vezes falhará: Matt Berninger cá em baixo, na plateia, sendo abalroado pelos fãs (quando voltou para o palco, ia a abotoar a camisa) e fazendo da proximidade física o melhor veículo para a catarse desejada. Ainda com o batimento cardíaco acelerado, os presentes juntaram-se então à comunal “Vanderlyle Crybaby Geeks”, apresentada, como há muito vem sendo hábito, a capella. Mais um truque fácil, admitimos, mas a forma como os ecrãs devolveram a imagem de Berninger de sorriso aberto, cantando com toda a emoção “all the very best of us string ourselves up for love” traz-nos a garantia de que, neste concerto, os National estiveram, pelo menos, mais presentes do que no último concerto nesta mesma sala, há três anos.
A saída da sala, rumo à noite que continua quentíssima, faz-se ao som de Lou Reed, com “Perfect Day”. Perfeito não terá sido, mas o esforço sentido da banda e este público, que os recebe com um abraço a cada regresso, fez valer a pena o concerto nº 13 em Portugal.
Relacionados
-
Super Bock Super Rock: veja aqui as primeiras fotos
No primeiro dia do festival que agora se realiza no Parque das Nações, em Lisboa, tocam The National e Kurt Vile, entre outros. Veja aqui as primeiras imagens
-
Temper Trap agradecem aos campeões europeus no Super Bock Super Rock
Banda australiana diz não estar habituada a atuar em arenas do tamanho da MEO Arena e acaba o concerto a tirar uma selfie com o público
-
Super Bock Super Rock: o que vai mudar no trânsito no Parque das Nações até domingo
A circulação de trânsito estará condicionada em algumas zonas do Parque das Nações devido à realização do festival, anunciou a PSP
-
Se estiver a pensar ir ao Super Bock Super Rock, ouça primeiro esta playlist
Os destaques e as revelações do festival que começa hoje em Lisboa. Para ir com a matéria bem estudada
-
The National hoje no Super Bock Super Rock: o que pode esperar
Veja aqui o alinhamento provável do concerto da banda norte-americana esta noite no festival do Parque das Nações
-
Samuel Úria vai levar “alinhamento mais rock and roll” ao Super Bock Super Rock
O músico português toca hoje, quinta, no palco Antena 3. Veja a sua entrevista à SIC Radical